Sabores e Saberes

Produtos endógenos

Um território, três Patrimónios Mundiais da Humanidade, três parques naturais, duas regiões demarcadas – uma delas a primeira do mundo a ser delimitada e regulamentada em pleno século XVIII -, castas únicas, produtos de Denominação de Origem Protegida, raças autóctones e uma biodiversidade tão vasta quanto arrebatadora, são alguns dos epítetos que a Comunidade Intermunicipal do Douro, orgulhosamente exibe num mapa de abismáveis tesouros constituído por dezanove concelhos numa área de 4.031 Km2.

Muito do que é hoje Portugal deve a este território, tão rude quanto fértil, localizado a Norte, cujos desígnios da história levaram dali marinheiros à conquista do mundo, marcando de forma indelével a herança cultural do país. O carácter do duriense, a riqueza do solo, a excentricidade do clima, a fartura dos recursos naturais e a excecionalidade dos seus frutos são só parte da sua magnificência enquanto região.

Uma lição de história interminável numa viagem ao âmago dos sabores, aromas, texturas, odores destes dezanove concelhos é o que se sente e se respira quando se percorrem de fio a pavio estes santuários de cultura, abundância e sabedoria: Alijó, Armamar; Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Lamego, Mesão Frio, Moimenta da Beira, Murça, Penedono, Peso da Régua, Sabrosa, São João da Pesqueira, Santa Marta de Penaguião, Sernancelhe, Tabuaço, Tarouca, Torre de Moncorvo, Vila Nova de Foz Côa e Vila Real.

Vinhos

São vinhos únicos os que nascem da combinação ímpar de solo, clima e trabalho do homem do Douro. De todos os vinhos produzidos na primeira Região Demarcada e Regulamentada do mundo (1756). O Vinho do Porto é, sem dúvida, o mais notável e sublime. Conhecido desde o tempo dos romanos, já no século XVI rumava a Vila Nova de Gaia em barcos rabelos, para depois de envelhecido ser exportado e fazer as delícias dos ingleses e demais povos.

Mas este território encerra em si uma multiplicidade de néctares surpreendentes. Quer pela diferença na personalidade, quer pela distinção nas cores, texturas, aromas, permitindo múltiplos paladares que lhe reforçam, ano após ano, a notoriedade alcançada nas últimas décadas. Seja dos planaltos férteis da casta moscatel galego de onde surgem licorosos
magnânimos, seja da Região Demarcada do Távora-Varosa, berço do espumante, os vinhos DOC Douro e as quintas do grande Vale reafirmam a sua herança histórica, somando prémios e distinções de todas as latitudes.

Azeite

Ingrediente incontornável na gastronomia duriense, o azeite puro e reluzente da região é fruto de uma alquimia milenar, naturalmente perpetuada de geração em geração. Oriundas dos olivais das terras xistosas tipicamente durienses, bafejadas pelo seu microclima, as suas azeitonas são colhidas na altura certa, selecionadas e limpas por técnicas tradicionais dando lugar a saborosos azeites de aromas frutados.

Só numa visita ao Douro é possível conhecer os melhores! São produzidos segundo as normas da UE, mas a mística do processo artesanal ainda acontece, não raras vezes, nos lagares seculares de quintas e propriedades. A excecionalidade é reconhecida pela chancela Denominação de Origem Protegida (DOP). A experiência que proporcionam vale uma viagem às suas origens e… uma prova demorada. De uma vasta panóplia de
delicados, acídulos e aromáticos Virgens e Extra Virgens, os azeites produzidos no Douro são, há muitas décadas, verdadeiras estrelas a brilhar nos concursos internacionais e a transformarem pratos gastronómicos em «ouro» com o seu “toque de Midas”.

Maçã

Os contrastes do relevo e do clima no Vale do Douro, tão punitivos pela disparidade de amplitudes térmicas que infligem à região, são, ao mesmo tempo, uma bênção para o seu solo fértil e parte do segredo das maçãs ali produzidas. Milhares de hectares de macieiras, intercalados por vinhas e bordejados por oliveiras, enchem de beleza uma paisagem que muito deve à cultura deste fruto.

A maçã destas paragens é, geralmente, altaneira, como os castelos e os miradouros nas proximidades e, por isso, justamente conhecida por «Maçã de Altitude». O seu calibre enche a mão, faz arregalar os olhos, mas é na boca que se revela todo o seu esplendor. Resistentes às adversidades, estas maçãs são, devido à altitude, mais aromáticas, mais crocantes e mais saborosas que outras das mesmas variedades produzidas noutros lugares. Versáteis e duradouras, as maçãs do Douro estão presentes em receitas de doçaria e em sumos de produção nacional. Milhares de toneladas por ano são consumidas em Portugal, mas, para gáudio de muitos povos, chegam, hoje, a países longínquos como Brasil, Angola e Dubai, pois a sua fama, reconhecida em troféus e medalhas, não conhece fronteiras.

Amêndoa

A amendoeira, árvore delicada, que só as terras de clima mediterrânico com verões quentes e invernos rigorosos têm o privilégio de a ver crescer e florir, expande-se na paisagem de vários concelhos do Douro, abençoando-os duplamente em cada ano: com a sua flor e com o seu fruto. Entre fevereiro e março, são milhares as amendoeiras que se entendem num leito branco majestoso entre vales e encostas até ao alto dos montes ao longo de dezenas de quilómetros. Nas muitas festas concelhias dedicadas à Amendoeira em Flor ou em qualquer altura do ano é imperioso conhecer os rituais milenares associados a este fruto escondido em casca rija, com propriedades inolvidáveis e presença incontornável no receituário tradicional do Douro. Torradas, com pele, piladas, em farinha (uma das alternativas saudáveis ao glúten); cobertas com pasta de açúcar em mil voltas de alguidar ou dando forma e consistência a bolos e biscoitos são, sem dúvida, um dos melhores pretextos para conhecer uma região de paisagens irrepetíveis, património sublime e mil experiências a acontecerem.

Castanha

É com o fim da vindima e a chegada do Outono que o corrupio nos soutos começa. Milhares de toneladas de castanha são anualmente separadas do ouriço seco que as protegeu do calor e do frio para serem rapidamente distribuídas pelo país ou exportadas para o Brasil, Itália ou França.
Os durienses têm com este fruto uma relação milenar. Reconhecem nas suas árvores frondosas uma resiliência a toda a prova; orgulham-se dos seus bucólicos soutos a perder de vista, onde se escondem, no solo, tenros cogumelos e se abrigam lebres, coelhos e javalis que tantos caçadores atraem a estas paragens. Os rituais em torno da castanha -maioritariamente da variedade martaínha, a mais procurada nos mercados – envolvem múltiplas celebrações. Em novembro, pelo São Martinho, os magustos são uma constante por todo o território. Os pratos de caça, o vinho, as “Festas da Castanha”, a policromia da paisagem, são apenas alguns dos irrefutáveis argumentos para visitar o Douro, no outono e em todas as estações do ano.

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